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Este blog tem fins educacionais, existe para que a turma que ingressou na EMARC/IF Baiano campus Teixeira de Freitas socialize, debata, revise, divulgue, enfim aproveite seus estudos de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, como um canal, que poderá servir até para interação com outros estudantes de Ensino Médio.
As cantigas de amor situam-se no contexto da vida na corte, sendo uma produção mais intelectualizada, fruto de um amor quase sempre impossível de um trovador por uma senhora de classe social mais elevada – a castelã –, geralmente casada. É um amor submetido a regras - as regras do amor cortês - que o trovador precisava seguir para não despertar a sanha da senhora, ou para não fugir ao paradigma do gênero. Assim, era fundamental a discrição e moderação ao exprimir o sentimento amoroso; o amor oculto, preservando a identidade e o retrato físico da dama ou, quando muito, empregando o senhal, o pseudônimo poético; a coita, apresentando como possíveis soluções para a dor amorosa o morrer de amor ou o enlouquecimento, a perda total da razão. Tal como o amor à primeira vista da atualidade, era o ver que deflagrava o amor, o encantamento diante de tão divina dama, criada por Deus (Deus artifex). Cabia ao trovador a atitude de vassalo, lançando-se aos pés de sua amada. A cantiga de Pero Garcia Burgalês ilustra tal procedimento:
ResponderExcluirTexto de Garcia Burglês é esse que a Profº postou.
Texto escolhido por min.
Uã donzela coitado
d' amor por si me faz andar1
e en sas feituras falar
quero eu, come namorado:
restr’ agudo come foron,
barva no queix' e no granhon,
e o ventre grand' e inchado.
Sobrancelhas mesturadas,
grandes e mui cabeludas,
sobre-los olhos merjudas;
e as tetas pendoradas
e mui grandes, per boa fé;
á un palm’ e meio no pé
e no cós três plegadas.
A testa ten enrugada
E os olhos encovados,
dentes pintos come dados...
e acabei, de passada.
Atal a fez Nostro Senhor:
mui sen doair' e sen sabor,
des i mui pobr’ e forçada.
*Características*
A poesia desta época compõe-se basicamente de cantigas, geralmente com acompanhamento de instrumentos (alaúde, flauta, viola, gaita etc.). Quem escrevia e cantava essas poesias musicadas eram os jograis e os trovadores. Estes últimos deram origem ao nome deste estilo de época português.
Mais tarde, as cantigas foram compiladas em Cancioneiros. Os mais importantes Cancioneiros desta época são o da Ajuda, o da Biblioteca Nacional e o da Vaticana.
As cantigas eram cantadas no idioma galego-português e dividem-se em dois tipos: líricas (de amor e de amigo) e satíricas (de escárnio e mal-dizer).
Do ponto de vista literário, as cantigas líricas apresentam maior potencial pois formam a base da poesia lírica portuguesa e até brasileira. Já as cantigas satíricas, geralmente, tratavam de personalidades da época, numa linguagem popular e muitas vezes obscena.
• Cantigas de amor
Origem da Provença, região da França, trazidas através dos eventos religiosos e contatos entre as cortes. Tratam, geralmente, de um relacionamento amoroso, em que o trovador canta seu amor a uma dama, normalmente de posição social superior, inatingível. Refletindo a relação social de servidão, o trovador roga a dama que aceite sua dedicação e submissão.
Eu-lírico - masculino
• Cantigas de amigo
Neste tipo de texto, quem fala é a mulher e não o homem. O trovador compõe a cantiga, mas o ponto de vista é feminino, mostrando o outro lado do relacionamento amoroso - o sofrimento da mulher à espera do namorado (chamado "amigo"), a dor do amor não correspondido, as saudades, os ciúmes, as confissões da mulher a suas amigas, etc. Os elementos da natureza estão sempre presentes, além de pessoas do ambiente familiar, evidenciando o caráter popular da cantiga de amigo.
Eu-lírico - feminino
Atividade feita por João Lucas de O. Monti
I semestre B
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir'De origem provençal(Provença,região do sul da França,influenciou as cantigas de amor em Portugal pela imigração dos colonos franceses,pelo comércio,lutas com os mouros etc.)O travador declara seu amor a uma dama,uma mulher inatingível,e chega a pensar na morte para minimizar a dor e o sofrimento que essa paixão lhe traz;isso geralmente acontece em um palacio.
ResponderExcluirA primeira obra conhecida da Literatura Portuguesa é a cantiga de autoria de Paio Soares de Taveirós denominada "Cantiga da Ribeirinha",dedicada à Dona Maria Pais Ribeiro,amante de D.Sancho I.É uma cantiga de amor,na qual o travador confessa seu amor pela senhora,lamentando que lhe seja inacessível.'
Cantiga da Ribeirinha
"No mundo non me sei parelha,
mentre me for como me vai,
ca já moiro por vós-e ai!
mia senhor branca e vermelha,
queredes que vos retraia
quando vos eu vi en saia!
Mau dia me levantei,
que vos enton non vi fea!
E,mia senhor,dês aquel di',ai!
me foi a mi mui mal,
e vós,filha de don Paai
Moniz,e bem vos semelha
d'haver eu ´por vos guarvaia,
pois eu,mia senhor,d'alfaia
nunca de vós houve nem hei
valia d'ua correa."
'Agora uma cantiga de amor de D.Dinis,rei de Portugal,foi um dos maiores travadores de sua epoca'
Cantiga de Amor
"En gran coyta,senhor,
que peyor que mort'é,
vivo,per bõa fé,
e polo voss'amor
esta coyta sofr'eu
por vós,senhor,que eu
Vy polo meu gram mal,
e melhor mi será
de morrer por vós já
e,pois me Deus non val
esta coyta sofr'eu
por vós,senhor,que eu
polo meu gram mal vi,
e mays me val morrer
ca tal coyta sofrer
poys por meu mal assy
esta coyta sofr'eu
por vós,senhor,que eu
Vy por gram mal de mi
poys tam coytad'and eu."
Atividade feita por Bruna Alves,I semestre A
Contexto Histórico
ResponderExcluirMomento final da Idade Média na Península Ibérica, onde a cultura apresenta a religiosidade como elemento marcante.
A vida do homem medieval é totalmente norteada pelos valores religiosos e para a salvação da alma. O maior temor humano era a idéia do inferno que torna o ser medieval submisso à Igreja e seus representantes.
São comuns procissões, romarias, construção de templos religiosos, missas etc. A arte reflete, então, esse sentimento religioso em que tudo gira em torno de Deus. Por isso, essa época é chamada de Teocêntrica.
As relações sociais estão baseadas também na submissão aos senhores feudais. Estes eram os detentores da posse da terra, habitavam castelos e exerciam o poder absoluto sobre seus servos ou vassalos. Há bastante distanciamento entre as classes sociais, marcando bem a superioridade de uma sobre a outra.
O marco inicial do Trovadorismo data da primeira cantiga feita por Paio Soares Taveirós, provavelmente em 1198, entitulada Cantiga da Ribeirinha.
Características
A poesia desta época compõe-se basicamente de cantigas, geralmente com acompanhamento de instrumentos (alaúde, flauta, viola, gaita etc.). Quem escrevia e cantava essas poesias musicadas eram os jograis e os trovadores. Estes últimos deram origem ao nome deste estilo de época português.
Mais tarde, as cantigas foram compiladas em Cancioneiros. Os mais importantes Cancioneiros desta época são o da Ajuda, o da Biblioteca Nacional e o da Vaticana.
As cantigas eram cantadas no idioma galego-português e dividem-se em dois tipos: líricas (de amor e de amigo) e satíricas (de escárnio e mal-dizer).
Do ponto de vista literário, as cantigas líricas apresentam maior potencial pois formam a base da poesia lírica portuguesa e até brasileira. Já as cantigas satíricas, geralmente, tratavam de personalidades da época, numa linguagem popular e muitas vezes obscena.
• Cantigas de amor
Origem da Provença, região da França, trazidas através dos eventos religiosos e contatos entre as cortes. Tratam, geralmente, de um relacionamento amoroso, em que o trovador canta seu amor a uma dama, normalmente de posição social superior, inatingível. Refletindo a relação social de servidão, o trovador roga a dama que aceite sua dedicação e submissão.
Eu-lírico - masculino
• Cantigas de amigo
Neste tipo de texto, quem fala é a mulher e não o homem. O trovador compõe a cantiga, mas o ponto de vista é feminino, mostrando o outro lado do relacionamento amoroso - o sofrimento da mulher à espera do namorado (chamado "amigo"), a dor do amor não correspondido, as saudades, os ciúmes, as confissões da mulher a suas amigas, etc. Os elementos da natureza estão sempre presentes, além de pessoas do ambiente familiar, evidenciando o caráter popular da cantiga de amigo.
Eu-lírico - feminino
• Cantigas satíricas
Aqui os trovadores preocupavam-se em denunciar os falsos valores morais vigentes, atingindo todas as classes sociais: senhores feudais, clérigos, povo e até eles próprios.
o Cantigas de escárnio - crítica indireta e irônica
o Cantigas de maldizer - crítica direta e mais grosseira
A prosa medieval retrata com mais detalhes o ambiente histórico-social desta época. A temática das novelas medievais está ligada à vida dos cavaleiros medievais e também à religião.
A Demanda do Santo Graal é a novela mais importante para a literatura portuguesa. Ela retrata as aventuras dos cavaleiros do Rei Artur em busca do cálice sagrado (Santo Graal). Este cálice conteria o sangue recolhido por José de Arimatéia, quando Cristo estava crucificado. Esta busca (demanda) é repleta de simbolismo religioso, e o valoroso cavaleiro Galaaz consegue o cálice.
Jamile Santos Soares e Katiane Mendes Frank
I semestre B
A transgressão nas cantigas de escárnio e maldize
ResponderExcluirAs cantigas de escárnio satirizam de forma irônica e com palavras cubertas, com duplo entendimento, sem nomear a pessoa a quem se dirige o ataque, enquanto as cantigas de maldizer satirizam de forma direta, com palavras ofensivas, muitas vezes de baixo calão, nomeando claramente a pessoa atingida, embora tal distinção nem sempre seja muito clara.. Por temática, ambas ironizam comportamentos individuais ou de um determinado grupo social, como religiosos que se entregam a práticas sexuais, homossexuais, mulheres feias, etc. Têm por objetivo desnudar a sociedade da época, denunciando o que subjaz em suas margens, conteúdo que se mantém fora dos textos “oficiais” das cantigas de amor e amigo.
A cantiga de Pero Viviaez mostra o avesso da divinização da dama e da discrição amorosa, regras do amor cortês: expõe de forma risível e grotesca o corpo feminino, caracterizado pela deformidade. Agora, não é mais o trovador que sofre a coita, coitada é a donzela que será violentamente ironizada. Ele, come namorado, anuncia que falará sobre as feituras dessa mulher, preparando um texto aparentemente de amor. A ironia mordaz se dissipa e surge um horrendo retrato feminino: rosto comparado a um animal, completamente masculinizado e envelhecido pelas rugas; seios caídos; ventre, cintura e pés enormes – descrição feita de passada, rapidamente, como se houvesse outras características a serem focalizadas. Acrescenta, ao fim da cantiga, dados de cunho social que mais acentuam a rejeição: não há nenhum encanto nessa mulher, que é pobre (diferentemente da condição social da senhora que habita as cantigas de amor) e já foi forçada, expondo aspectos de foro íntimo, sexual.
Uã donzela coitado
d' amor por si me faz andar1
e en sas feituras falar
quero eu, come namorado:
restr’ agudo come foron,
barva no queix' e no granhon,
e o ventre grand' e inchado.
Sobrancelhas mesturadas,
grandes e mui cabeludas,
sobre-los olhos merjudas;
e as tetas pendoradas
e mui grandes, per boa fé;
á un palm’ e meio no pé
e no cós três plegadas.
A testa ten enrugada
E os olhos encovados,
dentes pintos come dados...
e acabei, de passada.
Atal a fez Nostro Senhor:
mui sen doair' e sen sabor,
des i mui pobr’ e forçada.
A possível concretização amorosa nas cantigas de amigo
ResponderExcluirAs cantigas de amigo, embora de autoria masculina, apresentam o universo feminino: é a voz da mulher que fala nessas cantigas, de temática bastante variada. Assim, ora celebra-se o amor correspondido, ora as dores da saudade ou da incorrespondência. São textos que mostram um viver simples, de uma domesticidade encontrável ainda hoje em dia, em um cenário caracterizado pela presença da natureza, pela igreja, pela vida familiar. A cantiga abaixo, de Martim de Guinzo, de estrutura paralelística, assinala a proibição materna como o grande impedimento para a felicidade amorosa. Observa-se o diálogo da moça com sua mãe, tentando sensibilizá-la para o pesar que a separação lhe causa e a possível alegria futura. A igreja é o local de convergência da vida social, ponto de encontro da donzela com seu amigo:
Non poss’ eu, madre, ir a Santa Cecília
ca me guardades a noit’ e o dia
do meu amigo
Nom poss’ eu, madre, aver gasalhado,
ca me non leixades fazer mandado
do meu amigo.
Ca me guardades a noit’ e o dia;
morrer-vos-ei con aquesta perfia
por meu amigo.
Ca me non leixades fazer mandado,
morrer-vos ei con aqueste cuidado
por meu amigo.
Morrer-vos ei con aquesta perfia,
e, se me leixassedes ir, guarria
con meu amigo.
Morrer-vos ei con aqueste cuidado,
e, se quiserdes, irei mui de grado
con meu amigo.
Andre Roberto Medeiros Jr. I semestre 'A'
A sublimação nas cantigas de amor
ResponderExcluirAs cantigas de amor situam-se no contexto da vida na corte, sendo uma produção mais intelectualizada, fruto de um amor quase sempre impossível de um trovador por uma senhora de classe social mais elevada – a castelã –, geralmente casada. É um amor submetido a regras - as regras do amor cortês - que o trovador precisava seguir para não despertar a sanha da senhora, ou para não fugir ao paradigma do gênero. Assim, era fundamental a discrição e moderação ao exprimir o sentimento amoroso; o amor oculto, preservando a identidade e o retrato físico da dama ou, quando muito, empregando o senhal, o pseudônimo poético; a coita, apresentando como possíveis soluções para a dor amorosa o morrer de amor ou o enlouquecimento, a perda total da razão. Tal como o amor à primeira vista da atualidade, era o ver que deflagrava o amor, o encantamento diante de tão divina dama, criada por Deus (Deus artifex). Cabia ao trovador a atitude de vassalo, lançando-se aos pés de sua amada. A cantiga de Pero Garcia Burgalês ilustra tal procedimento:
Ai eu coitad! E por que vi
a dona que por meu mal vi!
Ca Deus lo sabe, poila vi,
nunca já mais prazer ar vi;
ca de quantas donas eu vi,
tam bõa dona nunca vi.
Tam comprida de todo bem,
per boa fé, esto sei bem,
se Nostro Senhor me dê bem
dela! Que eu quero gram bem,
per boa fé, nom por meu bem!
Ca pero que lh’eu quero bem,
non sabe ca lhe quero bem.
Ca lho nego pola veer,
pero nona posso veer!
Mais Deus, que mi a fezo veer,
rogu’eu que mi a faça veer;
e se mi a non fazer veer.
sei bem que non posso veer
prazer nunca sem a veer.
Ca lhe quero melhor ca mim,
pero non o sabe per mim,
a que eu vi por mal de mi.
Nem outre já, mentr’ eu o sem
houver; mais s perder o sem,
dire[i]-o com mingua de sem;
Ca vedes que ouço dizer
que mingua de sem faz dizer
a home o que non quer dizer!
Andre Roberto Medeiros Jr. I semestre 'A'
Trovadorismo
ResponderExcluirTrovadorismo é a primeira manifestação literária da língua portuguesa. Seu surgimento ocorreu no mesmo período em que Portugal começou a despontar como nação independente, no século XII; porém, as suas origens deram-se na Occitânia, de onde se espalhou por praticamente toda a Europa. Apesar disso, a lírica medieval galaico-português possuiu características próprias, uma grande produtividade e um número considerável de autores conservados.
As cantigas de amor situam-se no contexto da vida na corte, sendo uma produção mais intelectualizada, fruto de um amor quase sempre impossível de um trovador por uma senhora de classe social mais elevada – a castelã –, geralmente casada. É um amor submetido a regras - as regras do amor cortês - que o trovador precisava seguir para não despertar a sanha da senhora, ou para não fugir ao paradigma do gênero. Assim, era fundamental a discrição e moderação ao exprimir o sentimento amoroso; o amor oculto, preservando a identidade e o retrato físico da dama ou, quando muito, empregando o senhal, o pseudônimo poético; a coita, apresentando como possíveis soluções para a dor amorosa o morrer de amor ou o enlouquecimento, a perda total da razão. Tal como o amor à primeira vista da atualidade, era o ver que deflagrava o amor, o encantamento diante de tão divina dama, criada por Deus (Deus artifex). Cabia ao trovador a atitude de vassalo, lançando-se aos pés de sua amada. A cantiga de Pero Garcia Burgalês ilustra tal procedimento:
Ai eu coitad! E por que vi
a dona que por meu mal vi!
Ca Deus lo sabe, poila vi,
nunca já mais prazer ar vi;
ca de quantas donas eu vi,
tam bõa dona nunca vi.
Tam comprida de todo bem,
per boa fé, esto sei bem,
se Nostro Senhor me dê bem
dela! Que eu quero gram bem,
per boa fé, nom por meu bem!
Ca pero que lh’eu quero bem,
non sabe ca lhe quero bem.
Ca lho nego pola veer,
pero nona posso veer!
Mais Deus, que mi a fezo veer,
rogu’eu que mi a faça veer;
e se mi a non fazer veer.
sei bem que non posso veer
prazer nunca sem a veer.
Ca lhe quero melhor ca mim,
pero non o sabe per mim,
a que eu vi por mal de mi[m].
Nem outre já, mentr’ eu o sem
houver; mais s perder o sem,
dire[i]-o com mingua de sem;
Ca vedes que ouço dizer
que mingua de sem faz dizer
a home o que non quer dizer!
Cantigas de amor, de amigo e de escárnio e maldizer
ResponderExcluirDa Página 3 Pedagogia & Comunicação
A experiência mais criativa e fecunda do Trovadorismo - e, portanto, dos primórdios da literatura portuguesa - encontra-se na poesia trovadoresca. De um lirismo estranho, quando comparados, por exemplo, à poesia moderna, os poemas dos trovadores podem parecer ultrapassados àqueles que fizerem uma leitura desatenta, superficial.
Massaud Moisés diz bem quando salienta que a poesia trovadoresca "exige do leitor de nossos dias um esforço de adaptação e um conhecimento adequado das condições históricas em que a mesma se desenvolveu, sob pena de tornar-se insensível à beleza e à pureza natural que marcam essa poesia".
Para conhecer as origens da lírica trovadoresca, devemos recordar que, a partir do século 11, e durante todo o século 12, a região da Provença, no sul da França, produziu trovadores e jograis que acabaram se espalhando por vários países da Europa. A influência da poesia provençal chega, inclusive, aos nossos dias. Esses provençais se misturariam aos jograis e menestréis galego-portugueses, dando origem às cantigas que veremos a seguir.
É também da Provença que vem o substantivo "trovador", pois lá o poeta era chamado "troubadour" (enquanto que, no norte da França, recebia o nome de "trouvère"). Nos dois casos, o radical da palavra é o mesmo, referindo-se a "trouver", ou seja, "achar". Os poetas eram aqueles que "achavam" os versos, adequando-os às melodias e formando os cantares ou cantigas.
Para fins didáticos, divide-se a lírica trovadoresca em:
1. Cantigas de amor: o trovador confessa, de maneira dolorosa, a sua angústia, nascida do amor que não encontra receptividade. O "eu lírico" desses poemas se revela, às vezes, na forma de um apelo repetitivo, no qual não há erotismo, mas amor transcendente, idealizado. Como exemplo, vejamos esta cantiga de Pero Garcia Burgalês:
Continuação:
ResponderExcluirAi eu coitad! E por que vi
a dona que por meu mal vi!
Ca Deus lo sabe, poila vi,
nunca já mais prazer ar vi;
ca de quantas donas eu vi,
tam bõa dona nunca vi.
Tam comprida de todo bem,
per boa fé, esto sei bem,
se Nostro Senhor me dê bem
dela! Que eu quero gram bem,
per boa fé, nom por meu bem!
Ca pero que lh’eu quero bem,
non sabe ca lhe quero bem.
Ca lho nego pola veer,
pero nona posso veer! Mais Deus, que mi a fezo veer,
rogu’eu que mi a faça veer;
e se mi a non fazer veer.
Sei bem que non posso veer
prazer nunca sem a veer.
Ca lhe quero melhor ca mim,
pero non o sabe per mim,
a que eu vi por mal de mi[m].
Nem outre já, mentr’ eu o sem
houver; mais s perder o sem,
dire[i]-o com mingua de sem;
Ca vedes que ouço dizer
que mingua de sem faz dizer
a home o que non quer dizer!
2. Cantigas de amigo: o trovador apresenta o outro lado da relação amorosa, isto é, assume um novo "eu lírico": o da mulher que, humilde e ingênua, canta, por exemplo, o desgosto de amar e, depois, ser abandonada; ou o da mulher que se apaixonou e fala à natureza, à si mesma ou a outrem sobre sua tristeza, seu ideal amoroso ou, ainda, sobre os impedimentos de ver seu amado. No exemplo a seguir, do trovador Julião Bolseiro, o diálogo se estabelece entre a mulher apaixonada e sua filha, que impede a mãe de ver seu amado:
Mal me tragedes, ai filha,
porque quer ‘ aver amigo
e pois eu com vosso medo
non o ei, nen é comigo,
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça.
Sabedes ca sen amigo
nunca foi molher viçosa,
e, porque mi-o non leixades
ver, mia filha fremosa,
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça. Pois eu non ei meu amigo,
non ei ren do que desejo,
mais, pois que mi por vós v~eo
Mia filha, que o non vejo,
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça.
Por vós perdi meu amigo,
por que gran coita padesco,
e, pois que mi-o vós tolhestes
e melhor ca vós paresco
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça.
Como salienta Massaud Moisés, analisando essa dualidade amorosa do trovador, "é digna de nota essa ambiguidade, ou essa capacidade de projetar-se na interlocutora do episódio e exprimir-lhe o sentimento: extremamente original como psicologia literária ou das relações humanas, não existia antes do trovadorismo, e nem jamais se repetiu depois".
3. Cantigas de escárnio e de maldizer: são poemas satíricos. Nas de escárnio, ressaltam-se a ironia e o sarcasmo. Já as de maldizer são agressivas, abertamente eróticas, a sátira é expressa de forma direta, sem meias palavras, chegando a usar termos chulos.
DUPLA KRISTINE OTONI E MATILDES PASETTO .
ResponderExcluirQuem fala no poema é um homem, que se dirige a uma mulher da nobreza, geralmente casada, o amor se torna tema central do texto poético. Esse amor se torna impraticável pela situação da mulher. Segundo o homem, sua amada seria a perfeição e incomparável a nenhuma outra. O homem sofre interiormente, coloca-se em posição de servo da mulher amada. Ele cultiva esse amor em segredo, sem revelar o nome da dama, já que o homem é proibido de falar diretamente sobre seus sentimentos por ela (de acordo com as regras do amor cortês), que nem sabe dos sentimentos amorosos do trovador. Nesse tipo de cantiga há presença de refrão que insiste na idéia central, o enamorado não acha palavras muito variadas, tão intenso e maciço é o sofrimento que o tortura.
São cantigas que espelham a vida na corte através de forte abstração e linguagem refinada.
Importantes Cantigas:
No mundo non me sei parelha,
Mentre me for’como me vay
Ca já moiro por vos – e ay!
Mia senhor branca e vermelha,
Queredes que vos retraya
Quando vus eu vi em saya!
Mao dia me levantei,
Que vus enton non vi fea!
E, mia senhor, des aquel di’ ay!
Me foi a mi muyn mal,
E vos, filha de don Paay
Moniz, e bemvus semelha
D’aver eu por vos guarvaya
Pois eu, mia senhor d’alfaya
Nunca de vos ouve, nem ei
Valia d’ua correa.
O cavalheiro se dirige à mulher amada como uma figura idealizada, distante. O poeta, na posição de fiel vassalo, se põe a serviço de sua senhora, dama da corte, tornando esse amor um objeto de sonho, distante, impossível.
ResponderExcluirNeste tipo de cantiga, originária de Provença, no sul de França, o eu-lírico é masculino e sofredor. Sua amada é chamada de senhor (as palavras terminadas em or como senhor ou pastor, em galego-português não tinham feminino). Canta as qualidades de seu amor, a "minha senhor", a quem ele trata como superior revelando sua condição hierárquica. Ele canta a dor de amar e está sempre acometido da "coita", palavra frequente nas cantigas de amor que significa "sofrimento por amor". É à sua amada que se submete e "presta serviço", por isso espera benefício (referido como o bem nas trovas).
Essa relação amorosa vertical é chamada "vassalagem amorosa", pois reproduz as relações dos vassalos com os seus senhores feudais. Sua estrutura é mais sofisticada.
São tipos de Cantiga de Amor: -Cantiga de Meestria: é o tipo mais difícil de cantiga de amor. Não apresenta refrão, nem estribilho, nem repetições (diz respeito à forma.) -Cantiga de Tense ou Tensão: diálogo entre cavaleiros em tom de desafio. Gira em torno da mesma mulher. -Cantiga de Pastorela: trata do amor entre pastores (pebleus) ou por uma pastora (pebléia). -Cantiga de Plang: cantiga de amor repleta de lamentos.
Exemplo de lírica galego-portuguesa (de Bernal de Bonaval):
"A dona que eu am'e tenho por Senhor
amostrade-me-a Deus, se vos en prazer for,
se non dade-me-a morte.
A que tenh'eu por lume d'estes olhos meus
e porque choran sempr(e) amostrade-me-a Deus,
se non dade-me-a morte.
Essa que Vós fezestes melhor parecer
de quantas sei, a Deus, fazede-me-a veer,
se non dade-me-a morte.
A Deus, que me-a fizestes mais amar,
mostrade-me-a algo possa con ela falar,
se non dade-me-a morte."
Octavio Zon
CARATERÍSTICAS DAS CANTIGAS TROVADORESCAS
ResponderExcluirCANTIGA DE AMOR
1– O trovador assume o eu-lírico masculino: é o homem quem fala.
2– A mulher é um ser superior, pertence a uma categoria social mais elevada que a do trovador.
3– Expressa a coita (dor, sofrimento) amorosa do trovador, por amar uma mulher inacessível, que não lhe corresponde e a quem rende vassalagem amorosa.
4– O ambiente, culto e refinado, retrata a vida na corte.
5– É de origem provençal (de Provença, região do sul da França).
Paio Soares de Taveirós
Como morreu quem nunca amar
se fez pela coisa que mais amou,
e quanto dela receou
sofreu, morrendo de pesar,
ai, minha senhora, assim morro eu.
(Alunas: Tatyane e Thalita-I sem. B).
ResponderExcluirTrovadorismo
CONTEXTO HISTÓRICO
Trovadorismo foi a primeira escola literária portuguesa. Esse movimento literário compreende o período que vai, aproximadamente do século XII ao século XIV.
As atividades literárias em Portugal durante a transição da Alta para Baixa Idade Média, nascem quase que simultaneamente com a consolidação da nação portuguesa como reino independente, num período marcado principalmente pelo Feudalismo (plano políticoeconômico) e pelo Teocentrismo (poder espiritual do clero).
O Feudalismo foi um sistema político-econômico medieval descentralizado na qual o poder estava diretamente relacionado à posse da terra. A economia era fundamentalmente agrária (subsistência), sem comércio e, portanto, sem intercâmbio cultural. Praticamente todas as mercadorias negociadas nessa época vinham da terra e por isso, a quantidade de terra possuída era a chave da fortuna e do poder, que estava nas mãos da nobreza, representada por senhores feudais ou suseranos. Estes faziam a concessão de pequenos lotes de terra (feudo) a um servo ou vassalo, para que este a cultivasse em troca de proteção. Além da obrigação de cultivar esses lotes, os vassalos tinham que pagar inúmeras taxas impostas pelos donos das terras. Os valores dessas taxas eram tão altos que o dinheiro que restava era apenas o suficiente para a sua subsistência e para o plantio de uma nova safra. Essa relação de dependência entre suserano e vassalo nessa sociedade fortemente hierarquizada era chamada de vassalagem.
Havia ainda uma outra classe social política e economicamente poderosa, detentora de grandes extensões de terras: o clero. A Igreja era a maior Instituição feudal da época, determinando o modo de pensar e viver de uma sociedade fortemente marcada pela idéia de Deus como centro do universo. A própria produção artística vai estar impregnada por esse espírito teocêntrico, numa época em que religião e profano se confundem. Tanto a pintura quanto a escultura procuravam retratar cenas da vida de santos ou episódios bíblicos. A vida do povo lusitano estava voltada para os valores espirituais e a salvação da alma. Emoção e fé regiam as ações, determinando uma visão mais subjetiva do mundo, caracterizando certo irracionalismo. Surge a Escolástica, filosofia medieval que tentava justificar a fé pela lógica. A Igreja pregava a renúncia aos bens materiais e aos prazeres terrenos como condição para salvação eterna. Nessa época, eram freqüentes procissões, romarias, construção de templos religiosos, missas etc.
Tais aspectos sócio-culturais são importantes para entendermos certas características das manifestações literárias desse período. O feudalismo terá reflexos até mesmo na linguagem da poesia lírica. Ademais, as cortes dos reis e dos grandes senhores feudais são os centros de produção cultural e literária. O teocentrismo, por sua vez, vai se refletir tanto nas novelas de cavalaria como na poesia de temática religiosa, nas hagiografias e obras de devoção. Devido às cruzadas, a maioria dos textos líricos demonstrava a saudade da amada pelo amado que foi para lutar em favor da igreja, contra os mouros. Os outros textos líricos demonstravam o amor platônico, amor impossível de se consumar (o que nesse caso é com o casamento), pois o sujeito-lírico desses poemas é um amante de uma escala mais baixa na hierarquia feudal, sempre era um camponês morrendo de amores por uma nobre.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirNa cantiga de Julião Bolseiro há também o impedimento para o encontro dos amantes, só que nesta a proibição parte da figura filial, abordando uma situação inusitada, pelo que manifesta de moderna. O diálogo se tece da mãe - voz do texto - para a filha:
ResponderExcluirMal me tragedes, ai filha,
porque quer ‘ aver amigo
e pois eu com vosso medo
non o ei, nen é comigo,
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça.
Sabedes ca sen amigo
nunca foi molher viçosa,
e, porque mi-o non leixades
ver, mia filha fremosa,
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça.
Pois eu non ei meu amigo,
non ei ren do que desejo,
mais, pois que mi por vós v~eo
Mia filha, que o non vejo,
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça.
Por vós perdi meu amigo,
por que gran coita padesco,
e, pois que mi-o vós tolhestes
e melhor ca vós paresco [4]
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça.
Brenda :]
A cantiga de maldizer
ResponderExcluirAo contrário da cantiga de escárnio, a cantiga de maldizer traz uma sátira direta e sem duplos sentidos. É comum a agressão verbal à pessoa satirizada, e muitas vezes, são utilizados até palavrões. O nome da pessoa satirizada pode ou não ser revelado.
Exemplo de cantiga Joan Garcia de Guilhade
"Ai dona fea! Foste-vos queixar
Que vos nunca louv'en meu trobar
Mais ora quero fazer un cantar
En que vos loarei toda via;
E vedes como vos quero loar:
Dona fea, velha e sandia!
Ai dona fea! Se Deus mi pardon!
E pois havedes tan gran coraçon
Que vos eu loe en esta razon,
Vos quero já loar toda via;
E vedes qual será a loaçon:
Dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
En meu trobar, pero muito trobei;
Mais ora já en bom cantar farei
En que vos loarei toda via;
E direi-vos como vos loarei:
Dona fea, velha e sandia!"
Canção de amigo
ResponderExcluirOndas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo?
E ai Deus, se verra cedo!
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado?
E ai Deus, se verra cedo!
Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro?
E ai Deus, se verra cedo!
Se vistes meu amado,
por que ei gran coitado?
E ai Deus, se verra cedo!
Martim Codax
CARACTERÍSTICAS DAS CANTIGAS DE AMIGO
* Eu lírico feminino;
* Tratamento dado ao namorado: amigo;
* Expressão da vida campesina e urbana;
* Amor realizado ou possível - sofrimento amoroso;
* Simplicidade - pequenos quadros sentimentais
* Paralelismo e refrão;
* Origem popular e autóctone.
MAYTANE MARDONES- I Semestre B